Não havia tempo para esperar o novo escritório ficar pronto. O jeito foi alugar salas no prédio número 1 da Avenida Rio Branco (o RB1), no centro do Rio de Janeiro, e iniciar rapidamente os trabalhos – sob pena de perder terreno para os concorrentes. É ali, de maneira improvisada, que o time Rio4Real, formado até aqui por seis executivos da General Electric, vem “escaneando” o Rio atrás de oportunidades que possam transformar o Brasil em um dos maiores mercados da empresa. O primeiro mapa de negócios desenhado pela equipe é bem promissor: segundo eles, o estado deverá receber investimentos de US$ 100 bilhões até 2016, boa parte disto na capital. São os bons ventos dos Jogos Olímpicos, da Copa do Mundo e das explorações de petróleo no pré-sal. “Podemos nos beneficiar diretamente de pelo menos 1% desse montante”, diz Filipe Lima, gerente financeiro do Rio4Real. Um por cento disso, no caso, significa US$ 1 bilhão em receitas num período de cinco anos atuando apenas em uma pequena parte do país. Justifica criar um time que respire 24 horas a atmosfera carioca. Ainda que em salas alugadas.
A ideia, num primeiro momento, é aproveitar a organização da Olimpíada e repetir no Brasil a experiência da preparação dos Jogos de Londres, onde a GE participa com projetos que vão de iluminação dos estádios a reúso da água do parque aquático. Um estudo da PricewaterhouseCoopers, com números mais modestos que os de Lima, mostra que o Rio deve receber R$ 53,2 bilhões até 2016 – cinco vezes mais do que o montante projetado para a capital inglesa. Era esperado. A carência de grandes obras de infraestrutura no Rio, fruto da escassez de investimentos nos últimos anos, faz com que os gargalos sejam bem maiores, assim como as oportunidades para investidores. Joga a favor dos interessados a elevação da nota de credibilidade da cidade, em novembro do ano passado. A agência de riscos Moody’s concedeu ao Rio o status de grau de investimento, situação semelhante apenas à da prefeitura de Belo Horizonte e à do estado de São Paulo. “Estamos no lugar certo, no momento certo”, disse Jeffrey Immelt, executivo-chefe da GE, em recente entrevista a Época NEGÓCIOS.
Na lista de potenciais clientes da GE o primeiro nome é o do governo fluminense. A empresa já tem para oferecer um pacote de produtos e serviços testados amplamente em Londres. Um deles é um equipamento chamado Jenbacher, capaz de gerar 10 megawatts de energia, o suficiente para abastecer uma cidade com 100 mil habitantes. Além das funções triviais de um gerador, ele também resfria e aquece o ar. A ideia é que após os jogos o Jenbacher seja usado em casas, lojas e fábricas inglesas. Perfeitamente adaptável ao Rio. Outra aposta da GE é uma membrana especial usada no tratamento e reúso de água. O produto já está disponível no Brasil e a empresa espera vendê-lo como solução para projetos de saneamento básico. O momento não poderia ser mais propício. O prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral acabam de assinar um contrato por meio do qual a coleta e o tratamento de esgotos em bairros periféricos, como Bangu, Padre Miguel e Realengo, serão concedidos à iniciativa privada, mas regulados pela prefeitura. Na área de saúde, o trunfo da vez é o cardiomóvel, caminhão equipado com aparelhos para fazer exames cardíacos em áreas de difícil acesso, como as favelas. “Queremos trazer o conceito de mobilidade para toda a cidade”, diz Daniel Meniuk, engenheiro que trabalhou por 17 anos na Shell e hoje lidera a turma do Rio4Real.A GE do Brasil agora tem autonomia para fechar acordos ou comprar empresas sem ter de pedir a bênção da matriz
O namoro da GE com a cidade é recente. No início deste ano, a empresa anunciou a construção de um centro de pesquisas, orçado em US$ 100 milhões, no Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, onde fica o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Terá 200 Ph.Ds. É o único da América Latina e o segundo do mundo em tamanho, perdendo apenas para o de Niskayuna, em Nova York. Ao lado do laboratório brasileiro, será erguido um centro de treinamento de US$ 50 milhões. Boa parte dos trabalhos na Ilha do Fundão estarão concentrados em outro importante alvo da GE: a indústria do petróleo. Nas águas rasas do Rio, a empresa já assinou parceria tecnológica com o empresário Eike Batista e deve fornecer equipamentos de exploração para a OGX, empresa de óleo do bilionário. Nas águas ultraprofundas do pré-sal, a ambição é ainda maior: ser a maior provedora da Petrobras, oferecendo equipamentos que vão da plataforma ao poço. A divisão Oil & Gas da GE faz quase tudo no setor. Se não fizer – avisa a equipe Rio4Real – comprará quem faz.
Esse novo ciclo de investimentos tem permitido que muitos cariocas que estavam há anos fora do Rio encontrem, pela primeira vez, boas oportunidades em sua cidade natal. Foi o que aconteceu com Daniel Szwarcwald, ex-consultor da McKinsey e da Ernst & Young. Cansado de viajar semanalmente para trabalhar em clientes espalhados pelo Brasil, ele viu com entusiasmo a proposta de voltar ao Rio e assumir a área de inteligência comercial da Rio4Real. Será o responsável por encontrar parceiros para as áreas de negócios identificadas por seus colegas Filipe Lima, o homem das finanças, e Paula Melo, a responsável pelas pesquisas e estatísticas de mercado. Completam o time Aline Araújo e Jeferson Werlich. Ela, gerente de projetos, tem a missão de administrar o cronograma, cobrar metas e costurar os detalhes burocráticos das futuras parcerias. Ele, administrador, será o olheiro das oportunidades envolvendo Copa do Mundo e Olímpiada. A rotina diária de trabalho desse grupo se estende por nove a dez horas – ou de acordo com a urgência. “O time é dinâmico e multidisciplinar, o que facilita bastante o trabalho”, afirma Meniuk. Se atingirem as metas, Meniuk e equipe acreditam que poderão replicar a experiência em outros estados do Brasil.
Postado Por: Déborah Cirino
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